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sábado, 21 de abril de 2012

Tomás Antônio Gonzaga e a Teoria da Relatividade

"Os portais estão aí, nos resta encontrá-los." A física concebe o espaço-tempo como base para o estudo das duas grandes teorias publicadas por Einstein a respeito da gravidade: a Relatividade Geral e a Relatividade Espacial. Alterando a dinâmica proposta por Newton e sua mecânica clássica no que diz respeito ao funcionamento dessa força fundamental da natureza, as teorias de Einstein trouxeram à tona conceitos que hoje em dia já nos são perfeitamente compreendidos, embora a mecânica quântica já aponte certa obsolescência nas concepções einsteinianas sobre a vida, o Universo e tudo mais.

O espaço-tempo, nas teorias de Einstein, é compreendido como um esquema geométrico quadridimensional. Somado ao Tempo, o Espaço tridimensional forma o sistema de coordenadas que sustenta o Universo, como uma malha que suporta e é percorrida pelos corpos celestes em seus movimentos rotacionais, translacionais ou aleatórios. Em outras palavras, o espaço-tempo é uma estrutura curva e de certo modo maleável, tal qual um tecido.

Uma das pirações causadas pela Relatividade Geral é a ideia do "buraco de minhoca" (wormhole em inglês), termo cunhado pelo físico John Wheeler para explicar que o Universo pode ser percorrido por meio de atalhos através dessa malha espaço-temporal (!). O "buraco de minhoca" permitiria, portanto, que corpos atravessassem o espaço-tempo, viajando através dessas dimensões para frente ou para trás nessa geometria. É a tal viagem no tempo, tão explorada pela literatura e pelo cinema de ficção científica. Os "buracos de minhoca" são, dentro dessa perspectiva, noções topológicas, mas muito improváveis. Entretanto, há os que ainda acreditam em uma real possibilidade de atravessar o Universo, dizendo que "os portais estão aí, nos resta encontrá-los."

Eis aí um "buraco de minhoca". Entendeu como é? Não? Nem eu.
Vivo dizendo coisa parecida tanto em sala de aula quanto na minha vida cotidiana: as conexões estão aí, nos resta encontrá-las. Se acredito em viagens através de fibras de energia que podem ser distendidas em comprimento e largura, permitindo que corpos - inclusive humanos - transitem através desse continuum no espaço-tempo para qualquer ponto em qualquer marco temporal do Universo? Acreditar seria presunção; desacreditar, ingenuidade. Quanto à vida, "mistério sempre há de pintar por aí".

Por outro lado, acredito em "buracos de minhoca" entre áreas do conhecimento, entre linguagens, entre discursos. Não apenas acredito como posso prová-los (e o faço constantemente na minha prática em sala de aula). Por isso mesmo ainda reajo sorrindo à imagem abaixo: uma questão de Física de um livro didático cujo nome ou editora não me recordo agora, mas certamente envolve o ramo da óptica. Einstein também publicou estudos a respeito do comportamento da luz, mas enfim, chega desse papo.

Pois bem, o "buraco de minhoca" implícito na inocente questão conecta a óptica ao Arcadismo (também conhecido como Neoclassicismo), movimento literário surgido na Europa no século XVIII que chegou ao Brasil com certa fama e estimulou uma pequena produção nacional voltada para seus pressupostos estéticos. Talvez o poeta árcade brasileiro mais famoso, Tomás Antônio Gonzaga é autor da obra máxima do movimento no país: "Marília de Dirceu". Poema longo composto por liras, explora elementos biográficos da vida de seu autor (que, a propósito do feriado de hoje, participou da Inconfidência Mineira e converteu sua experiência na prisão em material poético da segunda parte de sua grande obra).

Dirceu ajoelhadinho declamando uma lira pra Marília *-*
Voltando à imagem: reparem que, embora perfeitamente contextualizada como indicador de um fenômeno óptico, a seta desenhada entre os personagens "sai" do rapaz, nomeado Dirceu, em direção à moça, de nome Marília. E o que é "Marília de Dirceu", se não poemas escritos por Dirceu (espécie de alter-ego de Tomás Antônio Gonzaga) para sua amada Marília (a jovem  Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, por quem Gonzaga realmente se apaixonou)? 

As conexões existem, nos resta encontrá-las. Quem diria que uma questão de Física redesenharia, de forma sutil, uma das mais belas histórias de amor contadas em nossa literatura? ♥

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Postagem inspirada no curta-metragem "Velázquez e a teoria quântica da gravidade", de Jorge Furtado. Além de falar sobre Física melhor do que eu, o filme ainda se conecta a uma postagem anterior deste mesmo blog ("Velázquez Popozuda"), provando novamente que há muitas minhocas estudiosas fazendo buraquinhos por aí. Principalmente se ninguém interrompe seus devaneios perguntando sobre a fita da Guta.

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